A Avant Graffiti, agência de notícias virtual, especializada em informações e noticias sobre graffiti, entrevistou nesta quinta-feira (31/03/16) o artista urbano Bonga. Dentre as informações, Bonga fala sobre o surgimento de seu apelido, o início de sua atuação artística - quanto ainda assinava como "Os Turcos" -, como era o cenário do graffiti e os artistas internacionais e nacionais que têm preferência no estilo. Confira abaixo:
AVANT GRAFFITI - Quando começou a pintar graffiti, o que te influenciou?
BONGA - Comecei a pintar por volta de 1991, por influência dos pixoart (hoje conhecido como grapixo), mas considero que comecei a pintar graffiti mesmo, a partir do ano de 1993. Nos anos noventa eu pixava e assinava como “Os Turcos” e, por influência de outros escritores como “A Coisa”, “Radinho” e “‘Rata 4 Cor”, comecei a observar um estilo de fazer as pixações de forma mais colorida, muito parecida com o estilo do graffiti que vinha de Nova Iorque. Em algumas possibilidades tanto de ir ao Centro de São Paulo ou visitar minha tia na região do ABC de trem, observei os trabalhos de muitos artistas até então anônimos, como “Guerra de Cores”, “Equipe Master” e foi o impacto necessário para que eu começasse a buscar referências e conhecimento do que significava tudo aquilo.
AVANT GRAFFITI - Qual o significado da sua assinatura?
BONGA - Este nome surge a partir de várias brincadeiras sofridas na minha infância. Será a primeira vez que divulgo isto em uma entrevista (risos). Com os meus 13 anos de idade, “Ongabonga” era o gesto que o Capitão Caverna fazia durante suas falas. E como eu tinha um modo de andar estranho, a molecada da época me apelidaram desde Troglodita, Capitão Caverna, até chegar em Ongabonga. Um dia me perguntaram se era Onga ou Bonga e eu disse: “Bonga”.
AVANT GRAFFITI - Como era a cena do graffiti quando começou?
BONGA - As informações eram escassas. Na época, junto a dois amigos, comprava revistas norte-americanas de hip hop como “Rap Pages” e “The Source”, porque tinham algumas páginas voltadas à cultura do graffiti. Além destas publicações, lia os fanzines e revistas brasileiras como “Fiz”, produzido pelos Os Gêmeos, “Epidemia Graffiti”, do Rooney e Kase Kreator e “Documento Graffiti”, do Binho Ribeiro. Também tinha acesso, em fitas VHS, filmes como “Beat Street”, “Style Wars”, “FX Crew”, “Tru Mac”, “A invasão” e etc. Já existiam alguns escritores como Binho, Tinho, Cobal, Vitche, Os Gêmeos, Speto, AV Crew, Onesto, Markone, Fedos, Chivitz, Gegão, entre outros. Os primeiros materiais de livros que chegaram foram as duas bíblias do graffiti chamadas “Spray Can” e “Subway Art” e também era comum ter que decorar o catálogo da paleta de cores da linha automotiva da Colorgin, pois era o único material que tínhamos acesso, pelo menos até a chegada das graffiti shops (como a “THC” do Maumeks), das oficinas (algumas promovidas pela Terceiro Mundo) e eventos de graffiti (Como o “São Paulo Capital Graffiti”).
Os eventos, particularmente, ajudaram a intercambiar os artistas, mas foi com o aparecimento e a explosão de redes sociais como Fotolog e Orkut, é que ajudou a fortalecer o início do acesso a esta cultura, não só de São Paulo como de outros estados. Toda esta passagem vai do final da década dos anos 90 até o início dos anos 2000.
AVANT GRAFFITI - De onde buscou referências para seu estilo?
BONGA - Dos mais variados artistas. Desde artistas do HQ como Frank Frazetta (criador do Conan), ilustradores como Milo Manara, artistas do graffiti como Mode 2, Lee, Vulcan, T-Kid e crews como FX Crew, Tat’s Cru e Mac Crew, fotógrafos como Sebastião Salgado, Pierre Verger, a artistas do mundo da música, dos mais variados estilos, desde hip hop, reggae, soul e R&B. Também escritores como Clovis Moura, Joel Rufino do Santos, Sun Tzu, entre outros.
AVANT GRAFFITI - O que te inspira nas suas criações?
BONGA - Questões políticas e sociais, as discussões étnicas e a análise da relação entre os animais e o cotidiano humano.
AVANT GRAFFITI - Qual é sua combinação de cores predileta?
BONGA - Cores quentes e monocromias.
AVANT GRAFFITI - Quais são seus artistas prediletos?
BONGA - Difícil. A lista é enorme, mas vamos lá. Alex 1, Loomit, Tasso, Odheit, Mr. Dheo, Bio, Ske, Prisco, Momk-E, Noe Two, Steve Locatlli, Macs, Darbotz, Saile, Gris, Lazoo, El Ced, Insane 51, Roa; Kong, Dain, Peta, Fisek, Jason, MadC, Zear; Shock, Vespa, Mark1, Snek, Borgo, Ícone K., Finok, Quinho, Bart, Mirage, Fhero, Ed-mun, Nick, Mirage, Origi, Derf, SWK, FBC, Snupi, Aren, Viber, Zack, Bigod, Amazon_Arab, JP, Feik, Ment e Ignoto.
AVANT GRAFFITI - Você já ministrou várias oficinas de graffiti, o trabalho de arte-educador o que acrescenta na sua caminhada?
BONGA - Acrescenta no sentido de usar como instrumento de transmissão de conhecimento e poder colaborar no fortalecimento da continuidade.
AVANT GRAFFITI - Conte-nos um pouco da sua trajetória como arte-educador.
BONGA - Iniciei em projetos sociais que utilizavam a linguagem do hip hop como instrumento de educação e cultura no próprio bairro, em formato de experimentação, por volta dos anos 2000. A partir desta experiência, atuei no projeto da Secretaria Estadual de Cultural e Educação chamado “Parceiros do Futuro”. A partir deste momento, adquiri experiência para trabalhar em vários outros projetos como: “Criança Esperança”, “Sou da Paz”, “Fundação Casa”, “Instituto Rogacionista”, “Ação Educativa”, “Ministério da Cultura”, “Ministério do trabalho”, Secretarias Municipais de Cultura em cidades como São Paulo, Caieiras, Belo Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre, Ubatuba, Franco da Rocha, Francisco Morato, etc.
AVANT GRAFFITI - Quais foram as coisas boas, que a sua arte te trouxe?
BONGA – Amigos, amores, viagens, experiências e vivências.
AVANT GRAFFITI - O que ainda não fez artisticamente e gostaria de fazer?
BONGA - Pintar um prédio.
AVANT GRAFFITI - Qual tipo de musica você costuma escutar?
BONGA - Rap.
AVANT GRAFFITI - Você gosta de ler, cite um bom livro?
BONGA - Faz muito tempo que não leio. Indico o livro A revolução dos Bichos de George Orwel.
AVANT GRAFFITI - Um bom filme?
BONGA - Lucy.
AVANT GRAFFITI - Uma boa comida e bebida?
BONGA - Pizza e um bom suco de laranja.
AVANT GRAFFITI - Se você não fosse grafiteiro o que você gostaria de ser?
BONGA - Tentei cantar rap antes de pintar, mas não deu certo. Gostaria de ser produtor musical.
AVANT GRAFFITI - Se Bonga de hoje em dia encontrasse o Bonga do inicio do graffiti, o que diria para ele?
BONGA - Volta e começa tudo de novo.
AVANT GRAFFITI - Você faz parte de duas crews internacionais, conte-nos como foi sua introdução a elas.
BONGA - Tudo aconteceu de forma inusitada. Havia sido convidado para um encontro internacional na Bahia, no qual vários escritores europeus estariam presentes, entre eles os lendários membros da Mac Crew Kongo e PWOZ. Durante os dias que seguiram, eu e o Lee 27, trocamos várias ideias (mesmo com dificuldade no idioma) com o Kongo e o PWOZ, criando um vínculo de amizade, quando dado momento, enquanto caminhávamos pela orla da Bahia, o Kongo nos perguntou se gostávamos da Mac. Ao respondermos que sim, o mesmo disse “então vocês são a Mac no Brasil”, nos fazendo o convite para sermos membros da Mac crew.
Já na X-Men, recebi num primeiro momento um convite do Over, em um evento realizado no Mube e em segundo momento, por intermédio do Mark1, oficializado pelo Zear, escritor argentino, que além de ser velha escola, é um dos caras que tem representatividade da crew e oficializou a minha entrada na X-Men.
AVANT GRAFFITI - Você acredita na ufologia?
BONGA - Sim, “a verdade está lá fora”...faltou a musiquinha do Arquivo X.
AVANT GRAFFITI - Deixe uma mensagem para nossos leitores.
BONGA - Como diria Paulo Henrique Amorim: “Oláaaaa, tudo bem?”
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